Sai a burrice, entra a inteligência

Foto: Gualter Naves/Light Press
Foto: Gualter Naves/Light Press

Se o Cruzeiro meter a mão na taça muito antes do final do Brasileirão, como tudo indica, certamente recrudescerá a campanha pela volta do mata-mata no principal campeonato nacional. É aquele velho e surrado argumento de que os pontos corridos extraem a emoção das decisões no torneio e tal e cousa e lousa e maripousa.

É uma visão tacanha e retrógrada, uma tese que nega a si mesmo. Isto é: por pontos corridos, a emoção está presente em cada rodada, e não se limita, no caso brasileiro, da disputa singular pelo título de campeão.

Agora mesmo, estamos vivendo essa rica experiência de cinco grandes do nosso futebol em renhida luta direta pelas três vagas restantes para a Libertadores, competição que voltou a ganhar vulto nas duas últimas décadas, com possibilidades ainda de outros, tipo Santos, atropelarem na reta final. Sem falar na batalha dos desesperados que fogem do descenso como o diabo da cruz.

Com os novos e confortáveis estádios erguidos recentemente, o torcedor se sentiu mais estimulado a frequentá-los em maior número, o que gera, além de maior receita para os clubes, um clima de comoção extra.

Isso, sem falar no aspecto meramente esportivo, em que o sistema atual passa a ser o mais justo (ou menos injusto, se preferirem) para apurar o melhor time do torneio.

Já a volta ao mata-mata nos remeterá àquelas tediosas fases de classificação em que já se sabe quais irão para as decisões de antemão, limitando a tal emoção a um quarto do campeonato, se tanto. E leva a taça não necessariamente o melhor,mas, sim, aquele que, no momento da fotografia final, estiver de semblante mais desanuviado.

Em todos os sentidos – marketing, esportivo, tempo de vigência da emoção na disputa -, a volta ao mata-mata é um tiro no pé do nosso futebol.

O que precisamos melhorar – e muito – é o nível do jogo apresentado em campo. É fundamental mudar o foco: em vez do resultado (leia-se, empates de hábito; vitórias, se possível), o espetáculo desse riquíssimo repertório que o futebol pode e deve apresentar, sobretudo no maior celeiro de craques do mundo, o Brasil.

Sobre isso, sim, é que os cartolas, a mídia, os técnicos, os jogadores e a tv que, no fim das contas, é quem está sustentando os clubes, deveriam se debruçar e dar um salto à frente.

Essa é a teia que deve ser traçada com racionalidade e firmeza, pois tudo está entrelaçado.

Quer ver?

Os técnicos, por terem vida curta e não disporem de tempo adequado para os treinamentos, se agarram aos resultados como uma questão de sobrevivência. Assim como os jogadores, extenuados por um calendário apertado e mal treinados, já entram em campo pensando em evitar o pior, e, não em oferecer o melhor.  E o resultado é esse cenário desolador, pontilhado por este ou aquele momento de excelência ofertado por este ou aquele time.

Cabe, então, aos cartolas estabelecerem um calendário decente e um regime mais substancial nas relações com os técnicos, oferecendo-lhes contratos menos nababescos e mais sólidos, com tempo adequado para fazer seu trabalho devidamente, o que lhes dará confiança para ousar mais na busca por melhores espetáculos.

Mas, para atingirmos esse estágio, antes de mais nada, é preciso entrar em campo um elemento raro no universo do nosso futebol – inteligência.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *